O século XXI irá obrigar a humanidade a repensar o modelo de desenvolvimento assente no betão, que invade as terras de cultivo com construções em altura. Se queremos viver mais tempo e melhor, há que moderar o fenómeno da motorização da mobilidade humana, investir na produção de alimentos frescos e reencontrar o equilíbrio entre a natureza e a acção humana, favorecendo uma maior qualidade ambiental, do ar e dos cursos de água, condição básica para termos uma vida saudável. A terra, a natureza, não podem ser vistas como meros cenários de fotografia ou cartaz turístico. Temos de preservar o seu valor como factor de produção de saúde, equilíbrio e, no caso das nossas ilhas, como elemento fundamental da nossa identidade. Não podemos ser ilhas e querer viver, em cada uma delas, como se vive nas grandes cidades. Para nós, a floresta, as ribeiras, os terrenos agrícolas e o mar são fontes de riqueza e traços que configuram a nossa história e o nosso modo de estar. Não queiramos imitar modelos que outros já abandonaram. Temos todas as condições para sermos diferentes, para viver melhor e de forma mais saudável e sustentável. O século XXI coloca-nos um desafio ambiental, a busca do equilíbrio entre os recursos e a produção. É urgente valorizar a terra e o mar que nos circunda. Já fomos celeiro e pomar nos primeiros séculos do povoamento. Soubemos transformar o leite, a beterraba, o tabaco e o atum em indústrias, nos séculos XIX e XX. Soubemos reforçar e melhorar o sector dos serviços ao longo do séc. XX. Quais são os desafios que queremos atingir no século XXI? O futuro está no equilíbrio e na qualidade. Temos de preservar os recursos naturais, diversificar a indústria e melhorar a qualidade dos serviços. Precisamos de planear o investimento, para que as gerações futuras não sofram com uma previsível escassez de alimentos e se vejam emparedadas num qualquer edifício, olhando as flores que murcham nos vasos da varanda. Se queremos garantir o futuro, é fundamental revalorizar o trabalho da terra. Uma actividade cada vez mais exigente, no controlo ambiental, no aproveitamento de recursos, na investigação que permite adequar as produções às condições climatéricas e ao potencial dos solos. A nossa terra dá tudo! Sempre deu! Dizem os mais antigos. O que falta é mão-de-obra, referem os empresários agrícolas! Mas se há terras subaproveitadas e necessidade de incrementar a actividade, por ventura o que falta é dignificar o trabalho agrícola, qualificar a mão-de-obra e melhorar os métodos de produção. Faz algum sentido que a Região importe a grande maioria dos produtos hortícolas que consome? Faz algum sentido que não se venda leite “do dia” numa terra de lacticínios? Ou que nos hotéis não se promovam os produtos locais, desde o chá às compotas? Por que motivo ainda há restaurantes que não valorizam a qualidade da carne, do peixe e de tantos outros produtos locais? As nossas terras não precisam de rega; podem produzir sem recurso a processos intensivos e, quando bem geridas, são rentáveis na produção de hortícolas, de todas as espécies, flores das mais variadas cores, vinho, cereais, frutas tropicais e até café. A nossa terra dá tudo. Só precisa que em troca, lhe demos trabalho e respeito.
Piedade Lalanda. Tirado daqui.
Piedade Lalanda. Tirado daqui.
2 comentários:
Ana, com este artigo a Dra. Piedade Lalanda mostra estar muito atenta às nossas posições. É pena não nos ter citado. Desafio-a a tornar-se sócia da Quercus e a colaborar connosco.
Eu também quando li este artigo fiquei com a ideia de que era bom alguém com a forma de ser e estar da Drª Lalande dinamizar a componente "Verde" em S. Miguel.
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