quarta-feira, 30 de junho de 2010

RIP Calheta

O povo quer(?), o político sonha e a obra nasce.
O futuro porto de recreio destroi paisagem natural (Rocha da Calheta, Lajes - Ilha das Flores). O custo do progresso, dirão alguns.
As modas, a vontade de alguns caciques locais, o voto fácil, o nivelar por baixo (pela bitola dos caprichos de algum povinho), as questões ambientais à mercê do combate político-partidário, o proliferar do betão, as obras mal pensadas, a descaracterização da orla costeira, a (falsa) bandeira do progresso. Digo eu.
Para quem não conhece, no interior daquela formação rochosa, existia um pequeno poço, de água límpida onde se podiam observar peixes, caranguejos, ouriços, entre outras espécies. Era "um pequeno aquário" onde eu e muitas das crianças tivemos a sorte de poder nadar.
O areal que se vê ao fundo é a chamada praia da Calheta, formada aquando a construção do porto das Lajes. Anteriormente os banhistas nadavam nas antigas poças (diversas piscinas naturais que ficaram soterradas com a obra do porto).
A praia apresenta algumas limitações, nomeadamente o facto de se encontrar na proximidade do porto e junto à foz de uma ribeira. Por estes motivos, esta zona nunca foi oficialmente classificada como praia, nunca foram efectuadas grandes obras com vista à melhoria das suas condições e nunca foi vigiada. Apesar disso, as análises comprovam que a qualidade da água durante o Verão é boa e este é o local onde acorrem muitos banhistas.
Agora a questão da utilidade pública:
Dada a geografia da ilha, existem poucas zonas balneares. No concelho das Lajes além deste local existe apenas a zona balnear da Fajã Grande, que fica a 18 km.
As crianças das freguesias da Fazenda, Lomba e Lajes quase de certeza que aprenderam a nadar nas Lajes neste local, cuja qualidade da água, fica agora comprometida. Onde vão aprender a nadar os meninos e meninas de agora? Em água contaminada ou sujeitam-se a andar 18 km para ir a banhos, os que tiverem transporte, claro. Outras alternativas: uma piscina coberta que está a ser construída. Artificial, para combinar com o resto.
Estarei a levar para o lado pessoal e emocional? Sim. Sepultaram a calheta da nossa infância...







5 comentários:

Ana Monteiro disse...

Este é apenas mais um exemplo, entre tantos:
http://soscostanorte.blogspot.com/2009/12/vandalismo-um-caso-concreto.html

Anónimo disse...

Não há palavras que descrevam o holocausto ambiental que este Governo tem imposto. Isto é tão revoltante que só me apetecia descarregar nos autores o rol de vitupérios da língua Portuguesa.
JNAS

Ana Monteiro disse...

Como eu o compreendo...Apetece-me o mesmo. A impunidade reina e somos nós e as futuras gerações que pagamos a factura, de não mais ver a paisagem primitiva, para não falar na outra factura. "A paradise lost"...

Nuno Barata disse...

Uma pena. Denunciei este atentado há cerca de dois anos, ninguém ligou, nem sequer os florentinos ou os lajenses. Parece que a mioria gosta disto. Paciência.

Ana Monteiro disse...

Pois, as pessoas têm mais orgulho em ter uma obra nova de betão do que ter uma paisagem natural. Há sempre uns programas polis que podem remover as borradas feitas por algumas ditas autoridades, mas nunca haverá um programa "naturis" para devolver aquilo que a natureza criou. A maioria gosta disto realmente, o que não quer dizer que a maioria tenha razão...