Entro no caminho florestal onde uma placa me indica que estou prestes a entrar numa zona de reserva Natura 2000. Percorro o idílico caminho de penetração daquele que é um dos locais mais espectaculares dos Açores: a Reserva Natural do Morro Alto e Pico da Sé. Ali é possível observar um imenso tapete de cedro, diversa flora endémica, magníficas turfeiras e a presença fiel da água, que escorre e dilui a alma.
De repente algo cruza o meu olhar e não, não é mais um dos milhares de coelhos que habitam esta reserva. É uma saibreira!! Belisco-me, não vá estar a sofrer uma alucinação causada por tanto verde. Mas no meio de tanto verde existe de facto uma extracção de cascalho ou “bagacina vermelha”, como se diz na gíria local. A saibreira é privada mas a sua exploração tem estado a cargo dos serviços Florestais da Ilha, o que á primeira vista poderá parecer caricato, mas isto deve-se ao facto de esta ser a única saibreira do Concelho de Santa Cruz, assumindo o carácter de utilidade pública, tão pública que nunca foi licenciada, o que é o mesmo que dizer que não existe plano de lavra e muito menos plano de recuperação paisagística. Questionando as autoridades locais sobre a questão, descubro que a saibreira foi encerrada há uns meses pela brigada Verde da GNR e não pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Acerca do licenciamento pouco se sabe e fica o mistério: quem continua a retirar ilegalmente e “às escondidas” o cascalho da saibreira? Tudo na mesma ou dupla infracção? Questiono, mas ninguém parece saber ou querer dizer o que realmente se passa.
Voltando ao passeio, que por momentos deixou de ser idílico, decido ignorar o imenso buraco e continuar a jornada. Mais à frente encontro uma nova placa que me confirma que estou mesmo dentro de uma zona protegida, de uma beleza invulgar, não fosse… algo estranho cruzar novamente o meu olhar. Não, desta feita não é uma saibreira. É algo azul que salta à vista do tapete verde. São cartuchos. Imensos. Espalhados por diversos locais e que me indicam que se pratica a caça naquela reserva. Apresso-me a fazer a colheita do dia, mas lamentavelmente sei que muitos mais despojos da caça ficarão ali, enterrados naquela paisagem.
Há brigadas de recolha de cartuchos? Há campanhas de sensibilização junto dos senhores caçadores? Há monitorização e fiscalização? E coimas? Em todos estes anos porque nunca foi feito o licenciamento da saibreira? Alguém tem noção do que é uma zona de Reserva Natura 2000?!?!
Depois disto só me resta testar a minha biofilia noutro lado…
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