segunda-feira, 11 de abril de 2011

Primavera no mundo


A Primavera trouxe a celebração dos dias da árvore, da água, da floresta e da poesia. Trouxe também revoluções sociais e o agravamento da crise económica mundial. Do Japão chega-nos um cenário de caos, destruição e medo. Medo de um assassino invisível que irá deixar um rasto mortífero durante muitos anos, contaminando a terra, o ar e a água, não só dentro das suas fronteiras, mas um pouco por todo o lado. O que aconteceu em Fukushima veio mais uma vez provar que ninguém pode garantir a cem por cento a segurança de uma central nuclear. É verdade que a tecnologia japonesa é muito rigorosa e também é verdade que as normas de segurança em vigor são bastante severas, mas isto apenas prova que este tipo de energia, ao qual muitos chamam "limpa"?!? encerra um risco demasiado elevado. E a questão aqui é saber se estamos dispostos a correr esse risco e se queremos deixar esta herança aos nossos descendentes. Na sequência da catástrofe que assolou o Japão, os líderes europeus apressaram-se a ordenar inspecções ás suas centrais e a repensar o futuro das mesmas, enquanto surgiam, um pouco por todo o lado, milhares de vozes a gritar "não ao Nuclear e a defender a importância das energias renováveis. É sem duvida um grande desafio para a Europa nas próximas décadas liderar um projecto que assegure uma maior independência energética. Os Açores estão no bom caminho, mas é preciso ir mais longe e depender cada vez menos do petróleo e dos lobbies relacionados com o mesmo. Esta Primavera trouxe também o fim de mais um ciclo da Quercus São Miguel, marcado por grandes dificuldades e vicissitudes. Com trabalho feito e com a consciência de que ficou ainda muito por fazer, depositamos esperanças num novo ciclo que se adivinha e que esperamos que seja de crescimento, reflexão e renovação.Queremos que a Quercus continue a ser uma voz que não se cala na defesa do ambiente da ilha de São Miguel e sempre que possível de toda a Região Autónoma dos Açores.Estamos aqui para divulgar e elogiar o que de melhor se fizer em prol do ambiente, mas também para denunciar e criticar os atentados e crimes contra a natureza, que não é propriedade de alguns, mas de todos nós. Todos juntos temos que decidir o que queremos para esta região que é única e que não deverá "copiar" e importar modelos de outros locais. Temos que colocar o conhecimento, a ciência, a tecnologia e a tradição ao serviço destas ilhas que são nossas e cujo futuro deverá ser decidido com a participação consciente de todos nós.É então tempo de tempo de repensar os nossos comportamentos, o que queremos para a nossa região e o que cada um de nós está disposto a fazer pela preservação de um património natural que é único.Não vamos fazer parte do clube das regiões que se "venderam" ao progresso e dinheiro fáceis! A economia, o turismo e ambiente não são unidades independentes. Deverá haver uma gestão integrada destas e outras áreas, que não devem ser confundidas com ideologias políticas, protagonismos fugazes, marketing, campanhas eleitorais ou com votos. Vivemos actualmente uma crise de grandes proporções: económica, social e ambiental mas sobretudo esta é uma crise de valores. A crise económica não nos deve desviar de outros grandes problemas que o mundo terá que enfrentar nás próximas décadas: as alterações climáticas e a escassez de recursos: água, alimentos e combustíveis fósseis.Para ultrapassar estas ameaças será preciso muito mais do que vontade política (se a houver). Será indispensável a mobilização da opinião pública e o contributo de toda a comunidade intelectual e académica. Apenas num ambiente de diálogo, tolerância e respeito pela biodiversidade (onde está incluído também o respeito pela diversidade humana) será possível dar um passo eficaz em direção à mudança, não esquecendo o pilar fundamental: a educação, área onde ainda há muito a fazer. Em Portugal infelizmente assistimos a uma política pública de educação ambiental deficitária. Parafraseando o Professor Viriato Soromenho Marques, " o trabalho realizado na área do ambiente deve-se a professores «conscientes» e organizações não governamentais «preocupadas»". A Quercus tem sido ao longo do tempo uma organização preocupada e empenhada em sensibilizar os mais novos para a temática ambiental e consideramos que é este o caminho a seguir. Em dia de mudança, não posso deixar aqui de agradecer a todos quantos colaboraram com a Quercus (sócios, não sócios e instituições) ao longo destes dois anos e deixo um agradecimento especial ao Paulo Nascimento Cabral e ao Mário Maciel por terem colaborado neste projecto. Graças a vocês a porta da Quercus continua aberta e preparada para um novo ciclo. A todos os sócios e não sócios deixo aqui um apelo: o mundo precisa de nós e precisa já! Transformemos esta crise numa oportunidade de renovação, de criação de uma sociedade mais democrática, mais digna, mais humana e mais sustentável. É Primavera. Apaixone-se pela natureza!

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