quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Retrato talvez saudoso da menina insular

Tinha o tamanho da praia
o corpo era de areia.
Ele próprio era o início
do mar que o continuava.
Destino de água salgada
principiado na veia.

E quando as mãos se estenderam
a todo o seu comprimento
e quando os olhos desceram
a toda a sua fundura
teve o sinal que anuncia
o sonho da criatura.

Largou o sonho nos barcos
que dos seus dedos partiam
que dos seus dedos paisagens
países antecediam.

E quando o seu corpo se ergueu
Voltado para o desengano
só ficou tranquilidade
na linha daquele além.
Guardada na claridade
do olhar que a retém.

Natália Correia (in Poesia Completa, 1999)

2 comentários:

Paulo Henriques disse...

Esperemos que um dia não se transforme numa Fajã do Calhau...

Ana Monteiro disse...

Repito o que escrevi num comentário anterior: o que está aqui em causa (na Fajã do Calhau) não é uma mera abertura de um caminho, mas uma recorrente afirmação local de poderes. Lamento que a natureza sirva de moeda de troca leviana.
O meu receio é que o mesmo aconteça com as Fajãs de São Jorge e das Flores e em épocas de campanha eleitoral vale tudo até mover montanhas. Abriu-se um mau precedente e nem o esforço para plantar endémicas vai trazer de volta a paisagem original.