O Pai Natal luminoso da baixa de Ponta Delgada deu-me ontem um presente, sob a forma de incoerência.
O motivo de todo este precoce brilho nocturno, segundo o que parece, é a tentativa de trazer mais pessoas para a baixa da cidade e apelar ao consumo no comércio tradicional.
Concordo com a importância da revitalização da economia, mas parece-me que luzinhas acesas desde o dia 11 de Novembro até pelo menos ao dia de Reis (no mês de Janeiro), é uma bela e cara manobra de diversão que não é proporcional ao valor da receita que eventualmente poderá gerar, além de que tem tudo menos de sustentável, numa cidade que se orgulha de ser a primeira em Portugal com gestão ambiental certificada da União Europeia.
O que me choca no meio disto tudo não é só que um país, à beira do colapso financeiro e enterrado até à cabeça na ruptura moral, pague uma exorbitância pelas iluminações de Natal; choca-me também a forma como se desvirtuam as tradições. E se é certo que nem todas as antigas tradições são dignas de respeito (como é o caso da lapidação e dos touros de morte), parece-me que iluminar a cidade no dia de São Martinho tem pouco de magusto, qual Carnaval fora de época.
As pessoas não compensam as suas frustrações ao olhar para um Pai Natal luminoso. Era bom que assim fosse. Não se pode pedir a um país e a uma região medidas de austeridade e a seguir desperdiçar dinheiros públicos desta forma.
As pessoas já não acreditam no Pai Natal, por mais cintilante que seja, mas ainda podem acreditar na moralidade do Estado, se este estiver à altura dessa tarefa.
Por este andar, no próximo ano a abertura da iluminação do Natal irá coincidir com o final das Noites de Verão. Parrhesia!
Sem comentários:
Enviar um comentário