segunda-feira, 12 de julho de 2010

Descobertas novas espécies no mar dos Açores

Um grupo de cientistas acaba de regressar de uma missão científica com amostras de animais raros e mais de 10 possíveis novas espécies, numa área pesquisada entre os Açores e a Islândia. Esta viagem tem a particularidade de revolucionar o pensamento sobre a vida de profundidade no Oceano Atlântico. Os cientistas completavam a última etapa do MAR-ECO, um programa de pesquisa internacional, que faz parte do Censo da Vida Marinha. O programa visa melhorar a compreensão da ecologia dos animais ao longo da Dorsal Meso-atlântica entre a Islândia e os Açores. A Universidade de Aberdeen, responsável pela expedição, assegura a contribuição do Reino Unido para a última etapa do MAR-ECO. O projecto envolveu cientistas de 16 países, entre os quais Pedro Ribeiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores. Durante mais de 300 horas de mergulho com o Isis, veículo operado remotamente, visitaram-se profundidades entre 700 e 3600 metros. Os investigadores examinaram planícies, precipícios e encostas da serra gigante que separa o Oceano Atlântico em duas metades, Leste e Oeste. De acordo com os cientistas, no Nordeste, ouriços-do-mar eram dominantes nas planícies e as depressões eram coloridas por esponjas, corais e outras espécies. Já no Noroeste, as depressões eram dominadas por rochas cinza, com muito menos vida. As planícies são o habitat de enteropneustas de águas profundas, um tipo de invertebrado com o cordão dorsal pouco desenvolvido. Apenas algumas espécies, do Oceano Pacífico, eram conhecidas. Esses animais integram um grupo pouco conhecido próximo do ainda desconhecido elo evolutivo entre animais invertebrados e vertebrados. Foram descobertas três novas espécies do grupo. Pepinos do mar, normalmente vistos rastejando lentamente nas planícies abissais do leito do oceano, foram encontrados em declives íngremes e sob as pedras da cadeia de montanhas submarina. Os cientistas ficaram surpresos com a agilidade e velocidade dos animais. As descobertas mostram, segundo os cientistas,que se deve estudar não somente as águas das margens, mas também as montanhas e os vales no meio dos oceanos. Pedro Ribeiro, do DOP, foi o único português a integrar a missão científica. Refere que se percorreram áreas que nunca haviam sido exploradas, tendo sido feito o levantamento de mais de 50 mil metros quadrados do fundo marinho. Foram recolhidos dados em vídeo e algumas amostras para confirmação das espécies. “Segundo as primeiras análises estamos perante não só de um maior número de espécies do que julgávamos, como algumas das espécies serão novas para a ciência. Explorámos habitats que nunca antes tinham sido explorados em quaisquer outras missões científicas”, testemunhou ao Açoriano Oriental. Pedro Ribeiro ficou particularmente surpreendido com uma área com cerca de dois quilómetros, ao longo de uma ravina, a 2500 metros de profundidade que estava literalmente coberta de esponjas e corais. “Isto é surpreendente porque à medida que vamos descendo de profundidade vamos tendo cada vez menos vida.Durante horas percorremos uma parede vertical completamente coberta”. Pedro Ribeiro lamenta não lhe ter sido possível proceder à recolha de amostras no âmbito desta expedição científica. (AO)

Sem comentários: