A humanização da paisagem açoriana resultou numa grande perda de biodiversidade. Como consequência, as espécies nativas que ainda persistem encontram-se restritas a locais específicos das ilhas e em populações tão reduzidas que estão em risco de extinção. E como a investigação botânica nos Açores continua a ser reduzida, há espécies da flora das ilhas que podem vir a desaparecer, sem que sejam devidamente classificadas e estudadas pelos cientistas. "Existe maior biodiversidade do que aquela que se pensava existir e que tem vindo a ser revelada por técnicas de genética molecular, ou seja, existe ainda um património nosso que urge proteger, antes que ele acabe por desaparecer e nós nem sequer o venhamos a conhecer convenientemente", lamenta Mónica Moura, docente no Departamento de Biologia da Universidade dos Açores e membro da equipa organizadora da exposição "À Descoberta da História Botânica dos Açores: As Plantas e os Cientistas" estará patente ao público até ao final de Abril do próximo ano, na na Aula Magna da Universidade dos Açores, em Ponta Delgada.
Além da voracidade da pastagem e da construção de habitações sobre a paisagem original das ilhas, também a introdução de espécies invasoras, que competem com as espécies nativas, veio dar um importante contributo para a destruição da flora nativa dos Açores. A exposição alerta, por isso, "para o quão belas as ilhas já foram e o quão menos belas são agora", afirma Ana Neto, também da equipa organizadora da exposição. No fundo, pretende-se explicar às pessoas o que é nativo das ilhas e o que foi introduzido pelo povoamento. Isto porque há um desconhecimento sobre a história botânica dos Açores que é importante contrariar e, desde logo, uma das melhores formas de o fazer é tentar levar às escolas e às crianças o gosto pela botânica. A exposição foi preparada para o público em geral, embora a sua componente didáctica seja muito forte, pois o grande objectivo durante os próximos meses é o de receber várias visitas escolares, havendo mesmo uma espécie de mini-sala de aula montada ao lado da exposição para se desenvolver um trabalho com as crianças de todos os ciclos de ensino. Até porque os Açores são ilhas verdes, que a generalidade das pessoas associa à pastagem, embora haja muita variedade de flora por descobrir. Apesar do laboratório natural que são os Açores, a biologia continua a oferecer muito poucas saídas profissionais aos seus licenciados, apesar do número de alunos no curso até ter aumentado nos últimos anos, após um ciclo decrescente. E a prova de que a biologia é uma mais-valia para a Universidade dos Açores é a grande procura que esse curso tem por parte dos estudantes estrangeiros que fazem o programa de intercâmbio Erasmus. Mas quando há espécies nativas que correm o risco de desaparecer sem que sejam convenientemente estudadas, qual é então o grande entrave à investigação na Universidade dos Açores? A resposta das duas docentes é pronta e resume-se a uma palavra: dinheiro. Ou falta dele, neste caso.
A mostra sobre a história botânica dos Açores estende-se por um conjunto de expositores temáticos que contracenam com um painel cronológico, revelando o trabalho das figuras mais ilustres da botânica que passaram pela Região. Os expositores estão divididos em três núcleos: um vocacionado para a história, para as colecções e para as instituições ligadas à botânica e os outros dois ligados à variedade das espécies e à ecologia insular. A mostra está cheia de pequenos "segredos" botânicos, entre eles muitas espécies raras, que vão sendo descobertas à medida que os visitantes percorrem os expositores.
(Fonte: Açoriano Oriental)
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