Vários cientistas e especialistas em tartarugas marinhas reuniram-se na Horta para estudar a problemática da tartaruga boba, uma espécie em perigo que é vista com regularidade nos Açores. O encontro, que contou com a presença de representantes de departamentos governamentais das Bahamas, Canadá, Cuba, Espanha, Estados Unidos, Itália, México, Marrocos e Portugal, teve como objectivo a partilha de informação e a disponibilização de soluções para os problemas e ameaças que afectam a população nidificante da tartaruga boba. "Esta é uma espécie que se reproduz nas praias da Flórida, do México e das Bahamas. Foi descoberto há alguns anos que faltava uma gama demográfica de indivíduos na população existente no Golfo do México e na Flórida. Depois, descobriu-se que estes animais recorriam à região marinha dos Açores e descobriu-se que as tartarugas bobas têm uma fase pelágica, podendo durar até aos 14 anos de idade a sua vinda para esta zona do Atlântico, onde estão a crescer e a alimentar-se antes de regressarem às suas praias de reprodução", explicou ao Açoriano Oriental o director do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores. Ricardo Santos revelou que a tartaruga boba é uma espécie em perigo, pois apresentou, durante a última década, um declínio do número de ninhos na ordem dos 40% no Oceano Atlântico. Segundo o director do DOP, dada a complexidade do ciclo vital da tartaruga boba, é necessário ter medidas de mitigação para a conservação das populações desta espécie, não só nas zonas onde se reproduzem e vivem na sua fase adulta, mas também nas zonas onde se alimentam. Ricardo Santos sublinhou ainda que é fundamental ter medidas de mitigação relacionadas com algumas pescarias, uma vez que a elevada mortalidade provocada por capturas acidentais está a comprometer os esforços de recuperação da tartaruga boba. "Sabemos que existem alguns impactos como a poluição e a existência de plásticos nos mares. Além disso, há o impacto através das pescarias de long line de superfície que pescam acessoriamente a tartaruga", disse o director do DOP. Segundo referiu, existem alterações específicas que podem ser implementadas nas práticas piscatórias, de modo a reduzir a mortalidade da tartaruga boba, sem pôr em causa a subsistência dos pescadores. Assim, estas mudanças incluem modificações nos aparelhos de pesca, mais precisamente no isco, na altura do dia em que os aparelhos são recolhidos e no manuseamento e libertação das tartarugas capturadas. Durante a reunião científica internacional foi tomada uma série de decisões no que respeita à protecção da tartaruga boba. Chegou-se à conclusão que é preciso implementar um programa de observação para avaliar a extensão do problema da captura acidental, bem como avaliar o sucesso da utilização das práticas de pesca melhoradas. É também essencial uma boa gestão dos montes submarinos e bancos, assim como maiores zonas tampão que contribuirão para a conservação das tartarugas bobas oceânicas e do seu habitat. É igualmente uma boa medida a gestão dos lixos para que não acabem no mar. "A tartaruga boba é outro bom exemplo de uma ligação histórica e natural entre os EUA e os Açores. Este encontro foi muito importante para proteger a população desta espécie", sublinhou, por seu turno, Gavin Sundwall, cônsul dos EUA na Região. A complexa história da tartaruga boba e o seu comportamento migratório fazem a ligação entre as praias do Atlântico Noroeste, onde ocorre a nidificação, e os locais de alimentação ao longo do Atlântico Este e Mar Mediterrâneo. As águas circundantes aos Açores são um habitat especialmente importante para a alimentação e desenvolvimento desta população de tartaruga boba. Esta área é abundante em montes submarinos e outras características oceanográficas, vitais para esta espécie.
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