Felizmente que alguém teve o bom senso de não permitir o espectáculo das Maravilhas nas Sete Cidades. É que há muitos anos que só de muito longe ainda parecem uma maravilha. Se tivessem algum pudor as Sete Cidades nem estariam entre as Maravilhas dos Açores a concurso. No início da década de oitenta mergulhei algumas vezes na Lagoa das Sete Cidades entre outras coisas para filmar (estava na RTP) a parte submarina de um videoclip do Luís Bettencourt em que ele mergulhava na Lagoa e reaparecia no mar numa recriação inventiva da lenda antiga da Lagoa . Filmava-se em 16 mm e restou uma parte da bobine pelo que filmei os magníficos lúcios e muitos outros peixes , a água transparente e o equilíbrio perfeito daquele ecossistema. Ainda poderá existir na RTP esta janela para uma lagoa perdida. Perdida já estava sem dúvida quando lá mergulhei passados alguns anos. Os poucos lúcios que vi tinham os corpos torcidos e cheios de feridas e as plantas verdes tinham dado lugar a umas coisas castanhas esquisitas, a água estava barrenta e a visibilidade nem um metro atingia contra mais de dez antigamente. E assim foi continuando e apesar de muitos avisos os Governos foram mudando e nada fazendo e a degradação foi-se estendendo a muitas outras lagoas em S. Miguel e em outras ilhas. Os símbolos das Sete Cidades hoje não são já o azul e verde (que estranhamente aparecem nos filmes de promoção das maravilhas será que usaram filmes de há vinte anos?), mas sim os esqueletos de lúcios nas margens, a espuma suja e as algas amarelas é o pântano em que boa parte das Lagoas se tornou. E contudo a Autonomia recebeu as Lagoas e os Açores em geral em muito boas condições ambientais. O que destruiu as Lagoas foram os adubos e as rações subsidiadas e a falta de controle na sua utilização, como agora já é reconhecido, foi o acumular 3 ou 4 vezes a carga suportável de nutrientes. E note-se que não foi a Autonomia que salvou a única Lagoa que ainda vai parecendo os antigos Açores, a do Fogo. Foi a estrutura fundiária foram os Velhos Açores como diria o Alberto João Jardim. Embora seja verdade que a Região neste caso tem mantido o que circunstâncias particulares favoreceram que escapasse à destruição . Agora anuncia-se um grande projecto de “requalificação “ das margens da Lagoa das Sete Cidades, criação de uma “praia fluvial” e mais um centro de monitorização e/ou interpretação que certamente fura todas as regras de proibição de construção nas margens, como já aconteceu com o das Furnas. Mas então não é proibido tomar banho na Lagoa? A água não é perigosa? Não nos aconselharam a não comer os lagostins? Não é que alguma vez eu os comesse, nem oferecidos, aliás nas Sete Cidades nem encontrei nenhum vivo. O único que vi este ano vivo foi na semana passad , imagine-se, no Parque de Estacionamento das Caldeiras das Furnas, calculo que não tenha ido lá parar pelo seu pé pelo que faria parte de algum balde deles à venda e resolveu escapar. Lá o devolvi à água e espero que o bichinho tenha sobrevivido à sua aventura. Pelo menos não será comido pelas carpas que antigamente havia na Lagoa das Furnas e se pescavam e até se comiam porque numa das tentativas desastradas de “salvar” a Lagoa mataram trinta toneladas delas. Claro que agora que (penso) todos concordamos que as Lagoas foram levadas pela Autonomia por acções e principalmente inacções a um estado lamentável o que interessa é caminhar para a sua recuperação. Não será multiplicando as obras de construção civil nas margens, nem com Centros de Interpretação ou Monitorização que as Lagoas irão recuperar nem serei eu, um mero curioso, a ter a veleidade de indicar caminhos ou soluções, mas talvez estudando o passado consigam soluções para o futuro se tiverem coragem de as implementar numa escala muito diferente da actual. E principalmente deixemos de participar em algumas coisas que são o equivalente a varrer o lixo para debaixo do tapete em vez de o tratar convenientemente.
(Fonte: Açoriano Oriental online)
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